O Brasil começou sua jornada histórica, de certa forma, com a cana-de-açúcar, que há cinco séculos era processada em pequenas fábricas de “engeño”. Hoje, o gigante sul-americano não está apenas expandindo mecanicamente suas plantações (9 milhões de hectares em 2017), mas usando-as de uma maneira qualitativamente diferente: produzindo bioetanol, um combustível para carros e aviões. Assim, no decorrer de sua evolução, um novo vetor de desenvolvimento foi adicionado ao setor de açúcar, que é baseado em alimentos, ou seja, a produção de bioetanol. Em 2009, o complexo sucroenergético brasileiro – açúcar, bioetanol e bioeletricidade – foi responsável por 2% do PIB (R$ 56 bilhões).
O Brasil é atualmente o primeiro maior produtor de açúcar (684,77 milhões de toneladas de cana-de-açúcar estão programadas para serem colhidas na safra 2016-2017; 1 tonelada de cana-de-açúcar = 138 kg de açúcar ou 72 litros de bioetanol)
Um pouco de contexto histórico. A cana-de-açúcar não é uma cultura nativa do Brasil e foi introduzida em 1532 pelo navegador e governador-geral português Martin Afonso de Sousa. Já nas décadas de 1530 e 40, as primeiras refinarias de açúcar, os “engenhos”, começaram a operar no que hoje é o Brasil, e a colônia começou a produzir açúcar. Isso desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico da região.
Em 2024, o Brasil tinha mais de 371 usinas de processamento de cana-de-açúcar em operação. Para exportação, o país vende açúcar de alta qualidade que atende a todos os padrões europeus, o que não é o caso do mercado interno, onde o açúcar em pó branco é popular na categoria de preço condicionalmente mais baixo, que tem um sabor menos pronunciado e é 1,5 a 2 vezes inferior em doçura ao produto que os russos estão acostumados a consumir. No entanto, o preço no varejo brasileiro para o açúcar dessa qualidade é equivalente ao preço russo.
Foto Hywit Dimyadi
Agora vamos abordar o tema do bioetanol a partir do processamento da cana-de-açúcar. A experiência do Brasil com energia renovável há muito tempo é de interesse de outros países. Ainda hoje, os carros “flex”, extremamente populares no Brasil, podem consumir gasolina pura ou etanol, ou qualquer variação de ambos. A possibilidade de motores de aeronaves movidos a etanol está sendo explorada. Por exemplo, em 2004, a empresa brasileira Embraer lançou o Ipanema, uma aeronave movida a etanol puro que posteriormente se tornou líder de mercado entre as aeronaves agrícolas no Brasil (75% das vendas).
O Brasil é o segundo maior produtor e exportador (depois dos EUA) de etanol, um álcool técnico derivado do processamento da cana-de-açúcar
Já em 1920, o Brasil iniciou os primeiros experimentos com a adição de etanol derivado da cana-de-açúcar à gasolina importada. Em 1937, um decreto especial foi assinado por Getúlio Vargas autorizando o uso de etanol no transporte. Foi necessário um aumento acentuado nos preços do petróleo na década de 1970 para aprovar o programa nacional Proalco, que, no final da década, resultou em cerca de 60% dos táxis brasileiros usando álcool industrial em vez de gasolina. As ruas das cidades brasileiras tinham cheiro de álcool.
A produção de novas fontes de energia renovável com base na cana-de-açúcar ou no óleo de mamona é excepcionalmente favorável para o Brasil. Poucas regiões na Terra têm uma combinação tão favorável de solo e clima. Além disso, o etanol produzido a partir da cana é muito mais barato: requer muito menos terras agrícolas e mão de obra do que o produzido a partir de outras culturas.
Os economistas estimam que a exportação de etanol e biodiesel, a venda de know-how e o esperado influxo de novos investimentos e crédito poderiam gerar fundos adicionais para combater a fome, a pobreza e as doenças. Eles mais do que compensarão qualquer possível redução na área de cultivo de alimentos (embora não haja escassez real dessas áreas). Além disso, a experiência do próprio Brasil, onde apenas 5% da área agrícola é dedicada ao cultivo de etanol, é bastante eloquente. O desenvolvimento do setor de etanol não impediu que o país se tornasse um dos três maiores produtores de alimentos do mundo.